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                                vídeo: O Clima e os Desastres Naturais  (INCT -  Mudanças Climáticas)

Os desastres são considerados alterações graves no funcionamento de uma comunidade ou sociedade devido a eventos físicos perigosos que interagem com condições sociais vulneráveis, levando a efeitos adversos, e que requerem resposta de emergência imediata (IPCC, 2014). O impacto da mudança do clima é um dos fatores que contribuem para o aumento dos riscos de desastres naturais, como inundações ou secas. Para calcular o risco, deve-se levar em conta a exposição ao risco, a vulnerabilidade e o perigo envolvidos, conforme a Figura 1. Em um cenário de mudança do clima, os extremos climáticos (altas temperaturas, chuvas intensas, seca) são mais frequentes e o risco de ocorrência de desastres tende a se intensificar.

Figura 1: Determinantes de riscos climáticos (IPCC, 2014)

Vulnerabilidade e exposição ao risco

No Brasil, o processo de expansão urbana desordenado resultou na concentração de populações mais vulneráveis nas denominadas “áreas de risco”, que são áreas suscetíveis a inundações e deslizamentos de terra. Essas áreas tem um alto grau de exposição, ou seja, as populações estão expostas tanto a eventos de ocorrência súbita (como deslizamentos de terra, enxurradas, etc.), quanto a eventos de natureza gradativa (como cheias). A vulnerabilidade está relacionada a propensão de serem afetados e é maior quanto maior for a sensibilidade aos danos e quanto menor for a capacidade adaptativa de lidar e se adaptar aos efeitos da mudança do clima.

Há uma série de fatores que influenciam na vulnerabilidade de uma população, por exemplo: governança, nível de pobreza e desigualdade, nível educacional, desenvolvimento urbano e regional, e resiliência. Portanto, em muitos casos, o principal fator determinante da vulnerabilidade aos desastres não são os efeitos da mudança do clima.

Outro exemplo são as secas no Nordeste. Apesar do clima semiárido ser mais propício para situações de baixa disponibilidade de água, o arranjo socioeconômico e de gestão do uso da água e do solo exacerba a vulnerabilidade dos municípios nordestinos.

Desastres nas diferentes regiões do Brasil e sua relação com mudança do clima

Por suas dimensões continentais e pela diversidade ambiental, climática e geológica, o Brasil está suscetível aos mais variados tipos de desastre. Entretanto, a maioria dos desastres naturais são relacionados a eventos hidrometeorológicos e climatológicos, quando o excesso ou escassez de chuva é o principal responsável por colocar em risco a população brasileira e suas atividades econômicas. Na tabela abaixo, estão descritas as principais características relacionadas aos desastres naturais nas diferentes regiões do Brasil (UFSC, 2013).

Região Principais Desastres % pessoas afetadas 1991-2012 % óbitos CEPED (2013) Características relevantes e determinantes do risco de desastres

SUL

Diversidade muito grande, destacando-se as secas e estiagens, inundações bruscas e vendavais/ciclones. 22,68

13,43

Severamente atingida por tempestades, vendavais e granizo. É a única atingida por ciclones (zona costeira).
SUDESTE Movimentos de massa, inundações, enxurradas e alagamentos. As secas merecem destaque no Norte e Nordeste de Minas Gerais. 22,17 66,56 Alta densidade demográfica aliada à ocupação desordenada em áreas de risco (alta exposição). Apresenta o maior número de mortes/milhão de hab, cerca de 28,50. Do total de registros teve 79% dos registros de movimentos de massa no período 1991-2012, destacando-se MG com 60%.
CENTRO OESTE Diversificado. Destaque para inundações graduais, secas, enxurradas e erosão, além dos recorrentes incêndios florestais. 4,09 0,41 Região com vocação agrícola, baixa densidade populacional (baixa exposição). Série histórica insuficiente para identificar padrões da evolução dos desastres. Merece atenção devido ao seu recente desenvolvimento, que pode trazer novas vulnerabilidades e aumento de exposição.
NORDESTE Majoritariamente as secas, devido à dimensão territorial. Mas as inundações (graduais ou bruscas) se destacam pela magnitude dos impactos. 44,09 15,84 Alta variabilidade interanual de chuvas e baixa capacidade de armazenamento de água no solo. Regiões metropolitanas são muito vulneráveis a inundações, causando desalojamento e alto número de óbitos. Região com maior número de afetados por desastres (47,63%).
NORTE Inundações (graduais e bruscas) e secas.

6,97

3,80 Ribeirinhos são atingidos por inundações (exposição), causando muitos problemas de saúde (vulnerabilidades sociais). As principais atividades econômicas são diretamente impactadas pelas secas (Exposição e vulnerabilidade econômica).

Fonte: Adaptado de UFSC (2013).

A interferência da mudança do clima é considerada um fator adicional para o gerenciamento de risco de desastres, já que parte dos vetores que colaboram com o aumento do risco de desastres está relacionada à vulnerabilidades que não dependem de variáveis climáticas. Embora existam registros dos aumentos de eventos extremos, estudos realizados apontam para uma maior correlação do aumento de desastres com o aumento da densidade demográfica, por exemplo. Portanto, a comprovação da interferência da mudança do clima na intensificação ou aumento dos desastres ainda necessita de mais acúmulo de evidências.

Projeções de desastres e aumento da vulnerabilidade

INUNDAÇÕES: Em termos de projeções de inundações bruscas, estudos destacam a condição futura da região Sul; o Sudeste com os maiores acréscimos de vulnerabilidade, além de praticamente toda a costa brasileira, entre o Rio Grande do Sul e o Ceará, com acréscimos menores (BRASIL, 2016a).

MOVIMENTOS DE MASSA: As regiões que merecem maior atenção estão no estado do Paraná e Santa Catarina (destacando-se o Vale do Itajaí), na Serra do Mar e Serra da Mantiqueira, no Sul e Sudeste de Minas Gerais, além de localidades pontuais no Nordeste Brasileiro, com acréscimos menores (BRASIL, 2016a).

SECA: Segundo as projeções utilizadas para o cálculo do Índice de Vulnerabilidade aos Desastres Naturais de Seca, a vulnerabilidade tende a se elevar por todo território nacional (mantidos os padrões socioeconômicos e de governança atuais). As maiores anomalias climáticas já são observadas no primeiro período de 2011 à 2040, sendo urgente a implementação de medidas de adaptação e políticas públicas de gestão do risco (Camarinha et al., 2015).

 Medidas de adaptação para desastres

Frente a esse cenário de baixa vulnerabilidade e a mudança do clima como fator do aumento do riscos de desastres, algumas medidas de adaptação e iniciativas de gestão de risco de desastre são:

  • Planejamento urbano e de grandes infraestruturas que leve em conta os cenários climáticos futuros.
  • Utilização de medidas de Adaptação baseadas em Ecossistemas para áreas de gestão de riscos de desastres.
  • Obras de infraestrutura para evitar ou reduzir inundações.
  • Manejo sustentável do uso da água e do solo, e desenvolvimento e implementação de novas tecnologias (captação de água, manutenção de água no solo, controle de pragas, entre outros) para evitar ou reduzir o risco de secas.
  • Financiamento de projetos sustentáveis e mecanismos de seguros ou de transferência de riscos.
  • Consolidação de um sistema de alerta precoce de desastres naturais.
  • Desenvolvimento econômico e social com o objetivo de diminuir a vulnerabilidade das populações.
  • Monitoramento do clima e de eventos extremos e fornecimento de previsões meteorológicas e climáticas de qualidade.
  • Monitoramento de variáveis precursoras de desastres naturais e previsão do risco de desastres.
  • Incentivo a pesquisas focadas na compreensão do risco aos desastres e diminuição das incertezas a fim de identificar hotspots de vulnerabilidade que são determinantes para a ocorrência de desastres.

Conteúdos recomendados por parceiros 

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(Última atualização: julho de 2018)

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Referências do texto:

  1. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2012. UFSC, 2012. 
  2. Global Assessment Report on Disaster Risk Reduction. UNISDR, 2015.  
  3. Índice de Vulnerabilidade aos Desastres Naturais de Secas para o Brasil no Contexto da Mudança do Clima. Camarinha, P. I. M.; Debortolli, N. S.; Hirota, M. 2015.
  4. Assessment Report 5 - South America. IPCC, 2014
  5. Modelagem climatica e vulnerabilidades Setoriais a mudanca do clima no Brasil. Ministerio da Ciencia, Tecnologia e Inovacao. Secretaria de Politicas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento. Coordenacao-Geral de Mudancas Globais de Clima. Brasil, 2016a.
  6. Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima: volume 2. Ministério do Meio Ambiente. Brasil, 2016b.