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Zonas Costeiras

no Contexto da Mudança do Clima

Impactos Vulnerabilidade Medidas de adaptação Conteúdos recomendados por parceiros

A zona costeira brasileira, com 8.698 km de extensão e área aproximada de 514 mil km2 (Nicolodi e Zamboni, 2008), é composta por distintos ambientes naturais bastante sensíveis, como praias, dunas, planícies costeiras, ilhas barreiras, lagunas, estuários, deltas, mangues, marismas, costões rochosos e recifes, além de cidades e suas diversas atividades econômicas. Todos esses ambientes, em geral situados em cotas inferiores a 10 m acima do nível médio do mar, são expostos a uma dinâmica de interação terra-mar-ar, e formam um complexo sistema extremamente ameaçado pelos potenciais impactos da mudança do clima conforme figura abaixo.

Fonte: Efeitos gerais da variabilidade do clima nos ambientes antrópicos e naturais da zona costeira e riscos sociais e ambientais associados (PBMC,2017 modificada de Wong et al.,2014 )

Em relação às cidades costeiras, estas contabilizam mais de 60% da população brasileira (PBMC, 2017).  Apesar de eventos extremos serem uma constante em zonas costeiras, a mudança do clima e o crescimento urbano rápido e desordenado amplificam seus efeitos, aumentando os prejuízos socioeconômicos e as perdas ambientais. A mudança do clima já em curso, expõe as cidades costeiras ao aumento do nível do mar, a mudanças na frequência e na intensidade de tempestades, e ao aumento na temperatura dos oceanos, por exemplo. Algumas de suas consequências são o aumento do risco de deslizamentos de terra, enchentes e enxurradas, inundação costeira, ondas de calor, secas e o aumento do risco de exposição da população, das moradias e das infraestruturas.

Neste contexto, as cidades costeiras brasileiras demandam um planejamento que priorize investimentos e medidas de adaptação, com foco na redução de riscos e minimização dos impactos ocasionados pelos eventos extremos.

Fenômenos e impactos da mudança do clima sobre a zona costeira brasileira

No Brasil, ainda há uma carência de informações relacionadas aos efeitos da mudança do clima sobre os ecossistemas costeiros, além da falta de conhecimento sistemático sobre a dinâmica costeira (Brasil, 2016). Considerando a elevação do nível do mar, os eventos extremos e a elevação da concentração de CO2 na atmosfera, a zonas costeiras estão sujeitas aos seguintes impactos:

Fenômenos

Impactos

Elevação do nível relativo do mar.

Alterações nos climas de vento e de ondas.

Aumento na frequência dos extremos climáticos de chuva (tempestades, ciclones e outros).

Aumento na temperatura.

Diminuição do aporte sedimentar das bacias hidrográficas.

 

Aumento da erosão costeira.

Aumento da frequência, da intensidade e da magnitude das inundações costeiras.

Mudanças nos processos sedimentares e consequentemente no balanço sedimentar costeiro.

Perdas de terrenos naturais e urbanizados.

Salinização e alterações na qualidade da água de estuários, lagunas e aquíferos costeiros.

Comprometimento dos sistemas de saneamento básico (esgoto e água potável).

Impactos positivos e negativos nas atividades portuárias.

Perda de solos férteis.

Problemas nas atividades agropecuárias, industriais, turísticas e de serviço-comércio.

Comprometimento dos recursos pesqueiros e biodiversidade.

Elevação da concentração de CO2 na atmosfera.

A maior absorção do CO2 pelos oceanos provoca sua acidificação, reduzindo a capacidade de calcificação de espécies estratégicas para a resiliência de ambientes, tais como os recifes de corais e as algas calcárias.

Fonte: Adaptada de: Wong et al.(2014) e Brasil (2016)

 

Vulnerabilidade e capacidade de adaptação

De acordo com estudo do PBMC (2017), diversas áreas costeiras do país apresentam vulnerabilidade alta ou muito alta à mudança do clima, com destaque para as regiões metropolitanas de Belém, capitais dos estados da região Nordeste, Rio de Janeiro e as cidades portuárias de Santos e Itajaí. Altos níveis de vulnerabilidade, combinados com exposição a condições meteorológicas e extremos climáticos mais graves, podem pôr em risco a habitabilidade de uma dada região (IPCC, 2012), já que a sociedade constrói o risco a partir de sua interação com o mundo físico, transformando o evento natural em perigos de diferentes intensidades e magnitudes (Valencio et al., 2009). O grau de vulnerabilidade aumenta quando vários fatores são combinados, por exemplo, efeito simultâneo de extremos de chuva, localização das moradias em áreas de risco, gestão inadequada de bacias hidrográficas, natureza do solo, e/ou ressacas em áreas costeiras (ONU-Habitat, 2012).

Ainda segundo estudo do PBMC (2017), a exposição humana ao aumento do nível relativo do mar, sem nenhuma estratégia de adaptação, se traduzirá em impactos catastróficos, com dezenas de milhões de pessoas se tornando refugiados ambientais, com o risco real do deslocamento forçado de até 187 milhões de pessoas ao longo deste século - cerca de 2,4% da população mundial (Nicholls et al., 2011). No Brasil, 40% da população rural em zonas costeiras moram em condições de pobreza (Barbier, 2015). Muitas dessas pessoas dependem da agricultura e pesca, e a sua sobrevivência depende de barreiras de proteção natural, como os manguezais para proteção contra eventos extremos.

O Brasil ainda não possui um estudo integrado da vulnerabilidade das cidades costeiras frente aos impactos decorrentes da mudança do clima em escala nacional, particularmente em relação à elevação do nível relativo do mar (PBMC, 2017). Apesar disso, cidades como Santos, Rio de Janeiro e Recife já iniciaram estudos de vulnerabilidade e planos de adaptação à mudança do clima. O estudo Metrópoles, realizado em Santos por um grupo de pesquisadores do Cemaden, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Instituto Geológico (IG) e da USP e Unicamp , apresenta estratégias de adaptação à mudança do clima, onde o nível do mar pode aumentar entre 18 e 23 cm até 2050. Este estudo concluiu que o custo mínimo com obras na região ficaria em torno de R$ 300 milhões, comparado com o R$ 1,5 bilhão que seria o preço por não se adaptar à mudança do clima, sem contar todos os impactos na população local, inundações, riscos à saude, etc (Agência FAPESP, 2017).

Medidas de adaptação para zonas costeiras

Para lidar com os fenômenos e possíveis impactos da mudança do clima nas zonas costeiras, será necessário a elaboração de análises custo-benefício para definir quais as medidas de adaptação mais adequadas para diferentes localidades, optando entre estruturas de alto custo ou medidas mais simples, políticas preventivas e/ou reativas, planejamento territorial e/ou ações pontuais, etc. Alguns exemplos de medidas são:

  • Práticas de redução de risco para proteção de áreas costeiras (King et al, 2014)
    • Fortificação (mudar o fluxo da água, ex.: construção de diques e paredes)
    • Acomodação (modificar o impacto da água, ex.: conscientizar a população, construir prédios e estruturas resistentes a inundações)
    • Recolocação (significa migração para áreas mais seguras)
  • Proteção das barreiras naturais (como dunas, mangues e recifes de coral) à elevação do nível médio do mar, como medida de adaptação baseada em ecossistemas.
  • Gestão integrada dos recursos naturais, como bacias hidrográficas e zonas costeiras.
  • Identificação de áreas de risco e estabelecimento de planos de contingência.
  • Sistemas de informação e de alertas.
  • Serviços financeiros, incluindo a transferência de riscos.
  • Ações que fomentem a coleta de dados, monitoramento contínuo e gestão integrada de pesquisas para gerar informações para análise de impactos e vulnerabilidades na zona costeira brasileira.

Dicas para gestores e tomadores de decisão (PBMC, 2017):

  • Ações de sensibilização para os riscos e a compreensão das respostas adaptativas das comunidades à adaptação são fundamentais para reduzir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência (Slovic, 1987). A falta de compreensão sobre como o risco é percebido por uma determinada comunidade pode levar a políticas ineficazes, mesmo que estas sejam bem-intencionadas.
  • Um processo adaptativo do gerenciamento costeiro deve manter a flexibilidade para acomodar condições de mudanças no tempo. Isto envolve a implementação de medidas de adaptação com co-benefícios para o ambiente urbano, ecossistemas e sistemas humanos. Uma estratégia de adaptação requer monitoramento das mudanças nas condições ambientais, tais como elevação do nível do mar e de condições climáticas, assim como o refino dos sistemas de medição, de forma que novas metodologias possam ser consideradas, como, por exemplo, satélites e sensoriamento remoto.
  • O modelo de gestão poderá envolver a combinação de um mix de políticas e ações de diferentes temáticas (saúde, educação, desenvolvimento urbano e industrial, transporte, habitação, saneamento, etc.), escalas espaciais (local, micro-regional e macro-regional) e temporais (curto, médio e longo prazo).

Conteúdos recomendados por parceiros 

Os parceiros da AdaptaClima com expertise em zonas costeiras recomendam os seguintes conteúdos para compreender a relação entre o tema e adaptação à mudança do clima: 

(Última atualização: julho de 2018)

Para mais conteúdos neste tema, faça uma busca avançada na Biblioteca de Conteúdos.

  

Referências do texto:

  1. Agência FAPESP (2017). Não se adaptar às mudanças climáticas sairá no mínimo cinco vezes mais caro. Acessado em: novembro de 2017.

  2. Barbier, E (2015) Hurricane Katrina’s lessons for the world, Nature, 524: 285-287.

  3. Brasil (2016). Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima: volume 2: estratégias setoriais e temáticas Ministério do Meio Ambiente. 

  4. PBMC (2017). Litoral em mudança: Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas.  

  5. Nicolodi, JL & Zamboni, A (2008). Macrodiagnóstico da Zona Costeira e Marinha do Brasil, Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Mudancas Climáticas e Qualidade Ambiental. Brasília. DF, Brasil.

  6. IPCC (2012) Managing the Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation. A Special Report of Working Groups I and II of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, Reino Unido e Nova York, NY, Estados Unidos da América.

  7. King et al. (2014) Voluntary relocation as an adaptation strategy to extreme weather event, International Journal of Disaster Risk Reduction, 8: 83–90.

  8. Nicholls et al. (2011) Sea-level rise and its possible impacts given a ‘beyond 4oC world’ in the twenty-first century. Phil. Trans. R. Soc. A. 369:161–181.

  9. ONU-Habitat (2012) Estado de las Ciudades de America Latina y el Caribe 2012: Rumbo a una nueva transición urbana, Programa de las Naciones Unidas para los Asentamientos Humanos, Recife, Brasil,

  10. Valencio, N, Siena, M, Marchezini, V, Gonçalves, JC (org) (2009) Sociologia dos Desastres. Construção, Interfaces e Perspectivas no Brasil. São Carlos: RiMa Editora..

  11. Wong, PP, Losada, IJ, Gattuso, JP, Hinkel, J, Khattabi, A, McInnes, KL, Saito, Y, e Sallenger, A (2014) Coastal systems and low-lying areas. In: Climate Change (2014) Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the IPCC.