Turismo
no Contexto da Mudança do Clima
Tendências climáticas e impactos | Vulnerabilidade e capacidade adaptativa | Medidas de Adaptação |
Em nível global, o setor de turismo contribuiu com 5% das emissões de gases de efeito estufa em 2005 e há previsões de que esse número seja mais que o dobro em 2035, especialmente em função de transportes, inclusive o aéreo.(Simpson et al., 2008). Por outro lado, o turismo é altamente vulnerável à mudança do clima. Os perigos incluem os eventos climáticos extremos, o aumento dos custos de seguro, a escassez de água, a crescente exposição de turistas a doenças transmitidas por vetores, a mudança nas temporadas de viagens para alguns destinos, os danos ao patrimônio cultural, as perdas de biodiversidade. O turismo costeiro será fortemente afetado pela elevação do nível do mar, inundações, erosão das praias e agravamento das ondas de tempestade.
A alteração dos padrões climáticos nos destinos turísticos pode afetar o conforto dos turistas e suas decisões de viagem. Com isso, a mudança na procura e nos fluxos turísticos terá impacto nos negócios e nos serviços das localidades turísticas como um todo. Em regiões onde o turismo é uma das principais atividades econômicas, qualquer redução significativa nestes fluxos resultará em sérios impactos no mercado de trabalho.
Tendências climáticas e impactos
No âmbito nacional, as pesquisas sobre os impactos da mudança do clima sobre o setor de turismo ainda são recentes e escassas. De forma geral, podem ser elencados algumas tendências climáticas e potenciais impactos (Grimm, 2016):
Tendência climática: Aumento de temperatura |
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Quem é impactado |
Impactos |
Consequências |
Oferta e demanda |
- Redução do período adequado para exposição solar - Stress térmico - Aumento na incidência de câncer de pele |
- Redirecionamento da demanda para outros destinos potenciais - Adaptação do período da viagem - Fragmentação do período de férias com diminuição da estada - Má qualidade da experiência |
Tendência climática: Eventos extremos (Tempestades tropicais, furacões, inundações, movimento de massa de solo, secas, entre outros) |
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Quem é impactado |
Impactos |
Consequências |
Espaço geográfico turístico, demanda, oferta e agentes |
-Destruição da infraestrutura turística - Bloqueio de vias de acesso - Interrupção nos meios de comunicação -Mudanças do ciclo hidrológico |
- Especulação imobiliária; - Contaminações e propagação de doenças - Falta de água potável - Alto custo de recuperação - Baixa capacidade de atendimento emergencial (resgate, evacuação, serviços médicos). - Indisponibilidade de acomodações de emergência, aconselhamento e atendimento às vítimas. - Aumento no preço das viagens - Má qualidade da experiência - Desconfiança do consumidor |
Tendência climática: Elevação do nível do mar |
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Quem é impactado |
Impactos |
Consequências |
Espaço geográfico turístico, oferta e agentes. |
- Degradação da praia - Branqueamento de corais - Erosão costeira - Destruição de manguezais |
- Diminuição do espaço junto à areia para o lazer - Impactos na reserva de água doce - Alto custo da restauração da orla |
Tais impactos podem resultar na interrupção das atividades turísticas ou tornar o destino mais caro e menos competitivo. Possíveis acréscimos de custos podem ser o resultado , por exemplo, da reparação de danos causados por eventos extremos, da aquisição de mecanismos ou equipamento adicional para lidar com situações de emergência, do agravamento de outras despesas – como seguros, depósitos de armazenamento de água e fontes energéticas autônomas.
Entretanto, medidas de adaptação podem trazer maior competitividade e oportunidades para o negócio. Um exemplo de medida comumente utilizada no setor de turismo de inverno são as máquinas de fazer neve em estações de esqui, que permitem aumentar o número de visitantes e expandir a temporada de esqui. Em relação ao turismo de sol e praia, há resorts nos países caribenhos que, por conta do aumento da temperatura e da maior incidência de furacões, passaram a oferecer descontos em quartos sem ar-condicionado, aperfeiçoaram os aparelhos existentes, e trabalham com seguros para furacões. Essas estratégias permitiram às empresas manterem o fluxo de turistas o ano todo. (Simpson et al., 2008)
Vulnerabilidade e capacidade adaptativa
A capacidade de adaptação no setor irá variar conforme o tipo de turismo, organização e região. Turistas possuem alta capacidade adaptativa devido à flexibilidade na decisão de viajar. Já as comunidades, as operadoras de turismo, as empresas de transporte e as agências de viagens possuem uma capacidade adaptativa menor devido a seus ativos móveis, sendo as pequenas e médias empresas de base local as mais vulneráveis. Grandes investimentos em infraestrutura, como hotéis, resorts, portos e aeroportos podem tornar-se elefantes brancos, especialmente em áreas costeiras muito afetadas.
O processo de adaptação do setor de turismo não pode ser considerado isoladamente, uma vez que os impactos em recursos hídricos, energia, saúde, agricultura e biodiversidade impactam, por sua vez, o turismo. Dessa maneira, são necessárias medidas de adaptação em conjunto com outros setores e pensadas dentro do contexto de políticas e estratégias de desenvolvimento sustentável.
Além disso, a adaptação envolve um conjunto complexo de processos e mecanismos – técnicos, comportamentais, empresariais, de gestão, políticos, educacionais – e necessita da ação de vários agentes – como turistas, operadores e empresários do turismo, associações do setor e instituições governamentais.
Algumas iniciativas que podem reduzir ou absorver riscos associados à mudança do clima:
- Medidas de alerta que antecipem ocorrências de ventos, chuvas, raios, entre outros, para proteger a população local e o turista.
- Criação de reservatórios de água, tratamento de água para reutilização, dessalinização e utilização de águas residuais recicladas, além de tecnologias para assegurar maior eficiência no consumo hídrico.
- Trabalho de sensibilização tendo como público alvo o turista.
- Criação de sistemas de resposta e seguros para extremos climáticos ou catástrofes naturais.
- Preparação e gestão de desastres em planos de gestão integrada de qualquer destino.
- Diversificação e inovação nas atividades oferecidas.
- Realocação do negócio.
- Manutenção ou reestabelecimento de ecossistemas naturais como atração (ecoturismo), mas também para o aumento da resiliência da atividade turística.
- Para lugares declarados como patrimônios naturais, a maneira mais efetiva de manter a capacidade adaptativa é proteger, aumentar e gerenciar as zonas de amortecimento, além de garantir conectividade entre diferentes áreas protegidas.
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Referências do texto:
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