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Tendências Climáticas Impactos Negativos Medidas de Adaptação Conteúdos recomendados por parceiros

                                       

                                 vídeo: O Clima e a Segurança Energética (INCT -  Mudanças Climáticas)


A base da geração na Matriz Elétrica Nacional é a hidroeletricidade, sendo complementada por fontes fósseis (em especial o gás natural)  por fontes nucleares, por biomassa e, ainda, por fontes eólicas (com as maiores taxas de crescimento na oferta de energia recentemente), sendo o uso de fonte solar ainda incipiente. O setor também compreende um sistema de transmissão que interconecta a geração em diversas bacias hidrográficas possibilitando assim a interligação do sistema de energia elétrica entre as regiões.

A grande participação de fontes renováveis na Matriz Energética Nacional resulta em uma baixa emissão de carbono, quando comparada com outros países. No entanto, os efeitos da mudança global do clima podem impactar a geração, transmissão e distribuição de energia, seja a renovável ou não-renovável. Dentre os parâmetros climáticos que interferem no setor energético, destacam-se o aumento da temperatura e a redução das chuvas, alterando a evapotranspiração dos lagos e dos cursos de água; as variações nas chuvas, que condicionam as vazões dos rios; a cobertura de nuvens, que influencia a irradiação solar na superfície, e a variação no regime dos ventos, levando a possíveis impactos de rajadas mais intensas que podem destruir ar turbinas de geração.

Apesar das energias renováveis serem prioridade na diversificação energética no Brasil, as fontes fósseis oferecem estabilidade para complementar o sistema. Conclui-se, portanto, que um programa de adaptação do setor deve priorizar a baixa emissão de gases de efeito estufa, buscando a compatibilização entre mitigação e adaptação.

Tendências climáticas:

  • Balanço hídrico: A tendência será de redução do Balanço Hídrico (relação entre precipitação e evapotranspiração, que se reflete no volume de água nas vazões) em bacias hidrográficas ao norte do país, como a Bacia Amazônica, Nordeste e Atlântico Leste, e de aumento para as bacias na porção sul/sudeste do país, como as bacias dos rios Paraná e Uruguai. Balanço Hídrico com tendência estável para as bacias localizadas nas regiões de transição entre essas regiões.
  • Intensidade da velocidade dos ventos aumenta nas regiões Nordeste e Sul, favorecendo a geração de energia elétrica. Tendência de redução da velocidade dos ventos na região Amazônica e em áreas da região Centro-Oeste.
  • Radiação poderá ter valores elevados na região Norte do Brasil. Menor irradiação devido ao aumento da frequência da cobertura de nuvens na região Sul.
  • Elevação da temperatura levando stress térmico às plantas em grandes áreas do Brasil, assim como uma redução no risco de geadas no Sul, no Sudeste e no Sudoeste do país, resultando em um efeito benéfico para as áreas atualmente não aptas ao cultivo de plantas tropicais, sendo possível a geração de energia elétrica por meio da biomassa, em especial a cana-de-açúcar . 
  • Eventos extremos Tendência de aumento da frequência e intensidade, de chuvas afetando a infraestrutura de geração, de transmissão e de distribuição de energia elétrica.  No Sul e Sudeste o aumento na frequência de chuvas intensas podem favorecer a ocorrência de desastres naturais como enchentes, inundações e deslizamentos de terra.

Impactos negativos potenciais decorrentes da mudança do clima

As projeções dos diferentes modelos climáticos tendem a apresentar variações entre os resultados nas regiões brasileiras, particularmente para chuvas, não havendo uma conclusão convergente. Portanto, é necessário avaliar com cautela os impactos específicos para cada território, sem, no entanto, subestimá-los. Sem uma avaliação aprofundada dos efeitos sinérgicos no sistema energético, alguns impactos negativos potenciais identificados em sistemas específicos são (GVces, 2014):

  • Termoelétricas (biomassa): disponibilidade e distribuição de terras com condições adequadas; produtividade de culturas bioenergéticas.
  • Biodiesel: migração de culturas como girassol e soja (matéria-prima para biodiesel) para áreas de baixo risco climático.
  • Hidrelétricas: disponibilidade total e sazonal de água; períodos de seca; mudanças operacionais no sistema hidroelétrico; evaporação dos reservatórios.Impactos na geração de energia para regiões de déficit hídrico.
  • Eólicas: alteração na intensidade dos ventos assim como nas rajadas danos devido a condições climáticas extremas.
  • Solar: problemas relacionados à redução de eficiência devido à diminuição da irradiação decorrente de maior incidência de nuvens; diminuição da eficiência devido às condições ambientais (aumento da temperatura nos painéis).
  • Vulnerabilidades: as vulnerabilidades do setor elétrico devem ser avaliadas de maneira sinérgica, considerando diferentes bacias hidrográficas, a diversidade das fontes de energia, a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) e suas estruturas de reserva, a fim de obter uma real dimensão da vulnerabilidade de todo o sistema elétrico.

Para entender o impacto das alterações climáticas no setor, é necessário avaliar a combinação entre a exposição dos sistemas de geração elétrica e o grau de sensibilidade de como esses sistemas reagem. Por exemplo: centrais hidrelétricas com reservatórios de regularização podem atenuar os efeitos das variações nas vazões dos rios e, consequentemente, os efeitos na geração elétrica. Portanto, esse sistema é menos sensível. Já centrais elétricas com baixa capacidade de armazenamento de água estão mais expostas às variabilidades climáticas, com reflexo no potencial de produção de eletricidade.

Capacidade adaptativa do setor elétrico, segundo o Plano Nacional de Adaptação

  • Sistema Interligado Nacional (SIN): a interconexão do sistema de geração elétrica, interligando bacias hidrográficas e centros de cargas, permite uma compensação natural dos efeitos dos impactos climáticos.
  • Sistema de transmissão robusto e ramificado por todas as regiões do país.
  • Sistema de gerenciamento de despacho de energia centralizado em um órgão com abrangência nacional.
  • Diversidade da matriz energética que implica em uma complementaridade da oferta de energia entre diferentes fontes. Essa complementaridade ocorre devido a uma sazonalidade que faz com que o período de geração mais intenso por eólicas ou térmicas de biomassa ocorra nos meses do ano em que as vazões são mais baixas.
  • Reserva de geração que, no caso de eventos extremos, é acionada para a estabilidade da oferta de energia.
  • A mudança do clima acentuará a diferenciação dos regimes hídricos entre as bacias hidrográficas da região Centro-sul do país e as da região Norte e Nordeste. Assim, a depender da capacidade de armazenamento, precipitações mais intensas tendem a compensar, em alguma medida, a diminuição da precipitação em outras regiões.
  • Podem ocorrer compensações entre as fontes de energia de diferentes regiões. Uma região onde a mudança do clima favorece a geração de energia por uma determinada fonte pode compensar, em parte, a queda de oferta de outra fonte em uma região mais desfavorável.

Medidas de adaptação para o setor elétrico brasileiro

  • Promover maior diversificação da matriz elétrica nacional.
  • Estimular o uso racional da energia.
  • Promover maior eficiência energética na transmissão e na distribuição.
  • Estimular novos modelos de negócios.
  • Ampliar o conhecimento técnico relacionado às vulnerabilidades do setor elétrico em regiões específicas;
  • Aprofundar estudos de análise de riscos à infraestrutura do setor de energia, com foco no contingenciamento de situações extremas.
  • Promover uma maior difusão do tema de adaptação à mudança do clima junto aos agentes do setor elétrico.
  • Reduzir os conflitos junto aos demais usuários de recursos hídricos e do território.
  • Avaliar os possíveis co-benefícios e sinergias entre mitigação e adaptação, relacionados às diferentes alternativas aplicadas ao setor.
  • Avaliar as intersecções quanto às medidas adaptativas entre a água, a energia, o uso da terra e da biodiversidade, de forma a compreender e gerir suas interações.

Conteúdos recomendados por parceiros 

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(Última atualização: julho de 2018)

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Referências do Texto:

  1. Estudo sobre adaptação e vulnerabilidade à mudança climática: o caso do setor elétrico brasileiro. CEBDS, 2014.
  2. Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima: volume 2: estratégias setoriais e temáticas. Ministério do Meio Ambiente. Brasil, 2016.
  3. Relatório final de sistematização de informações por recorte temático e setorial. Parte III/III do Produto 6.0 – Relatório Final. GVces, 2014.